É consenso entre pecuaristas leiteiros que um dos maiores problemas da pecuária leiteira em ambientes tropicais é o estresse térmico. O estresse térmico (e suas consequências) é considerado um dos fatores de maior impacto econômico na eficiência do rebanho, tendo efeitos negativos tanto na produção leiteira quanto na reprodução das vacas.
O desenvolvimento de estratégias que visem reduzir o efeito do estresse térmico nas vacas leiteiras deve fazer parte de todo o planejamento a ser ponderado nas propriedades. Caso contrário, as vacas, devido ao estresse podem não conseguir expressar todo o potencial que sua genética proporciona.
Vacas leiteiras europeias não são totalmente adaptadas ao clima tropical
Os rebanhos leiteiros mais produtivos são de origem europeia, e isso é quase que um consenso. Por isso expressam toda a capacidade produtiva em temperaturas mais amenas.
Por apresentarem alta produtividade tais vacas enfrentam problemas fisiológicos e comportamentais causados pelo estresse térmico em regiões com temperaturas elevadas. Dados de estudos indicam que para a maioria dos ruminantes a faixa de temperatura considerada confortável é de 13 a 18 º C. Em vacas leiteiras essa zona de conforto varia entre 4 e 24 º C, podendo ser restrita aos limites de 7 a 21º C, em função da umidade relativa e da radiação solar.
Com isso, a maioria dos animais especializados para produção de leite é altamente sensível às elevadas temperaturas encontradas nas zonas tropicais (como boa parte do Brasil). Por muitas vezes inclusive, a atuação dos elementos climáticos é tão intensa que causa desequilíbrio entre o animal e o ambiente.
Consequências do estresse térmico em vacas
A redução na produção de leite é o problema mais visível ocasionado pela variação excessiva da temperatura. Em estresse térmico, essas vacas terão redução na ingestão de alimentos, e nos casos mais extremos, tal ocorrência ocasionará na paralisação dos movimentos ruminais em poucos dias, causando distúrbios metabólicos mais sérios.
Isso ocorre devido ao aumento da quantidade de energia consumida para a manutenção da homeotermia da vaca, com isso, a ingestão de matéria seca que precisava se elevar, acaba sendo reduzida.
Além disso, nos meses mais quentes do ano e em regiões onde há efeitos mais pronunciados de estresse térmico sobre as vacas leiteiras, a falha na detecção de estro chega a 75-80%, pois o calor reduz tanto a duração do estro quanto o número de montas. Haverá assim, uma grande perda reprodutiva na atividade.
Como gerar mais conforto térmico às vacas?
Até um limite aproximado de umidade relativa do ar de 70%, a maneira mais adequada de se resfriar o ambiente para os animais em lactação, é o uso da água. A água possui alta capacidade calorífica e elevado calor latente de vaporização.
Como ocorre a redução do consumo de alimento é preciso formular uma dieta específica, ofertando aos animais uma alimentação com maior densidade de nutrientes, objetivando menor queda na produção de leite. Para isso, temos produtos específicos para animais em lactação. Além disso, alimentar os animais nas primeiras horas do dia e no final da tarde, também pode ser uma boa estratégia para atenuar a carga de calor sobre as vacas, atenuando o efeito do estresse térmico.
Alguns autores relatam que animais mantidos a sombra sem receber banho em relação aqueles que receberam banho seguido de ventilação durante meia hora em intervalos de três horas, tiveram o pico de temperatura retal diminuído de 39,7ºC para 39ºC, registrada ao meio dia, além disso tiveram aumento na duração do estro e fertilidade após a inseminação artificial no primeiro serviço.
Por fim, aumentar a taxa de ventilação, através do acréscimo de renovação do ar pode favorecer a perda de calor, evitando assim temperatura excessiva dentro da instalação.
O conforto das vacas depende exclusivamente da atitude do proprietário
Na pecuária leiteira, é essencial minimizar os efeitos do estresse térmico sobre os animais, com isso conseguiremos manter os níveis de produtividade adequados. O uso de sombreamentos (natural ou artificial), de aspersores ou nebulizadores, além de ventiladores são ótimas medidas. Algumas são mais baratas e outras necessitam de um capital de investimento maior do proprietário, porém todas tem boa capacidade de redução do estresse térmico das vacas.
Além disso, alterações na dieta (com o uso de alimentos de boa qualidade), o momento certo para o fornecimento do alimento, bem como a disponibilidade de água limpa e menor aglomeração dos animais podem ser estratégias utilizadas para evitar perdas produtivas sobre os rebanhos leiteiros.
Ao evitar o estresse térmico, suas vacas agradecem e sua produtividade aumenta. Todos ganham!
Grande abraço a todos!
Rosilene F. M. Mota
Zootecnista
CRMV-GO 01622
Fontes:
ALMEIDA, G. L. P.; PANDORFI, H.; GUISELINI, C.; HENRIQUE, H. M.; ALMEIDA, G. A. P. Uso do sistema de resfriamento adiabático evaporativo no conforto térmico de vacas da raça girolando. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.15, n.7, p.754–760, 2011.
CRUZ, L. V.; ANGRIMANI, D. S. R.; RUI, B. R.; SILVA, M. A. Efeitos do estresse térmico na produção leiteira: Revisão de literatura. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Ano IX – Número 16 – Janeiro de 2011 – Periódicos Semestral.
Nass, I. A.; ARCARO-JUNIOR, I. Sistemas de sombreamento artificial para vacas em lactação em condições de calor.Revista Brasileira de Engenharia Agrícola Ambiental, Campina Verde, v. 5, n. 1, p. 139-142, 2001.